7 de março de 2011

Leite derramado


O leite derramado já secou. Secou sobre as folhas de papel em branco, onde escrevi versos tristes. Porém o leite secou e sua substância alva clareia minha alma novamente. A escuridão sumiu e deu lugar aos raios de sol que iluminam novamente os meu olhos. As lágrimas com sabor de sangue de outrora, hoje se transformaram em alegria, que só saem dos meus olhos em largos e impulsivos risos.
Ler os textos de outros carnavais mostram a escritora que os fala o tanto que o amor é sublime, poderoso,embriagante...Entretando o carnaval acabou no meu peito, e a embriaguez largou-me, não facilmente, criou uma ressaca, que se foi depois de longos dias de dor de cabeça.
Hoje só tomo leite. Este límpido me fortalece todos os dias de manhã. Fortalecida posso olhar o passado com outros olhos. Olhos vibrantes, nostalgicos... Arrependimento não há, a vida não nos dá tempo para remoer atitudes erradas... Erradas?. Acredito que não, podem ter sido incertas, mais estas sempre nos fazem crescer. A incerteza é o combustível da vida. Ela nos faz evoluir, grau a grau, degrau a degrau, para que no fim da caminhada cada um possa levantar seu rosto e sentir o pulso do coração dizer... Sim , não somos perfeitos!
A perfeição descrita em outras primaveras, já não é tão perfeita. O espelho rachou o apreço , que foi embora com o vento. Em seu lugar construi-se a admiração, vinda de amigo, de irmão.
Lágrimas, desse e de outros muitos carnavais só serão derramadas preferencialmente pela alegria, mas às vezes o coração pode chorar, porém a tristeza não ocupará mais de um simples verso. As chagas passadas fecharam, sem nenhum remorso... Só se sente saudade. Saudade de como somos estupidamente ridículos... Mais ser ridículo é ser vibrante, pulsante e carnavalizar a vida para sempre. Ler antigas melodias e rir da tristeza dantes sentida com muita dor, é ver como somos mutantes e que a mesmice não nos controla mais. Rir não é o melhor remédio, este é a cura para que o vento leve os adjuntos, os adjetivos e as elipses para longe... Ao derramar o leite, não choro mais por este leite derramado, apenas levando o copo, troco as toalhas, amaço as folhas em branco e não choro... Solto um grande e iluminado sorriso!

Mari Pereira

9 de fevereiro de 2011

Sampa


Andando pela cidade meu coração pulsa mais rapidamente. Não por medo da desgraça ou algum perigo que me cerca, e muito menos por algum amor perdido, ele pulsa juntamente com o vai e vem da cidade. Grande cidade, muitas pessoas, uma verdadeira aldeia de ritmos, estilos e cores fazem desta, minha amada casa, única.
Como um corpo único é cortada por veias, artérias, que não transportam um sangue vermelho, verdadeiramente puro, mas um sangue colorido proveniente de várias raças, credos,que confirmam o ar de cidade mãe.
Esta é minha casa, se quiser pode entrar. Nesse infinito particular cheio de mistérios, que jamais todos os sentidos podem apurar, cheia de histórias, tristes ou felizes, refleta de cenários da novela cotidiana, essa paulicéia desvairada, como dizia Mário, me conquista a todo segundo, fazendo meus pés cimentarem nesta terra da garoa.
Não é necessário datas especiais para declarar aos sete ventos seu amor por alguém, o amor está em tudo, basta romper o lacre da realidade dura e deixar que a poesia e o lirismo tomem conta dos objetos.Este amor chegará a todos os lugares, em todas as pessoas, tomará conta da cidade do Centro a Itaquera e se escutará um suspiro " A como te amo São Paulo".
Minha casa, minha aldeia, meu eu... Minhas lembranças se perdem por suas ruas, meus passos, algumas vezes temorosos outras vezes firmes e corajosos, modelam suas calçadas... Meus pontos de encontro por aqui não são tão conhecidos, e muito menos populares, turísticos. Cada esquina tem sua marca, passando meu olhos por elas posso reconhecer meu destino e nele embarcar até esperar a próxima estação.
Sua melodia agitada, fundamentada entre xingos e buzinas, não me assusta, pelo contrário, tornam-me um ser em alerta e qualquer obstáculo, seja este físico ou sentimental, me fazem criar força para pulá-lo e virar na próxima esquina.
Navego pelo seu sangue colorido e encho-me de alegria. Nele posso passar por ruas e avenidas , cruzar a Av. São João com a Ipiranga, porém o significado dessa grande metrópole para esta que os fala, pode ser universal para muitos, particular demais para estas linhas, como um longo e debochado suspiro... Lar doce lar!

Mari Pereira