7 de março de 2011

Leite derramado


O leite derramado já secou. Secou sobre as folhas de papel em branco, onde escrevi versos tristes. Porém o leite secou e sua substância alva clareia minha alma novamente. A escuridão sumiu e deu lugar aos raios de sol que iluminam novamente os meu olhos. As lágrimas com sabor de sangue de outrora, hoje se transformaram em alegria, que só saem dos meus olhos em largos e impulsivos risos.
Ler os textos de outros carnavais mostram a escritora que os fala o tanto que o amor é sublime, poderoso,embriagante...Entretando o carnaval acabou no meu peito, e a embriaguez largou-me, não facilmente, criou uma ressaca, que se foi depois de longos dias de dor de cabeça.
Hoje só tomo leite. Este límpido me fortalece todos os dias de manhã. Fortalecida posso olhar o passado com outros olhos. Olhos vibrantes, nostalgicos... Arrependimento não há, a vida não nos dá tempo para remoer atitudes erradas... Erradas?. Acredito que não, podem ter sido incertas, mais estas sempre nos fazem crescer. A incerteza é o combustível da vida. Ela nos faz evoluir, grau a grau, degrau a degrau, para que no fim da caminhada cada um possa levantar seu rosto e sentir o pulso do coração dizer... Sim , não somos perfeitos!
A perfeição descrita em outras primaveras, já não é tão perfeita. O espelho rachou o apreço , que foi embora com o vento. Em seu lugar construi-se a admiração, vinda de amigo, de irmão.
Lágrimas, desse e de outros muitos carnavais só serão derramadas preferencialmente pela alegria, mas às vezes o coração pode chorar, porém a tristeza não ocupará mais de um simples verso. As chagas passadas fecharam, sem nenhum remorso... Só se sente saudade. Saudade de como somos estupidamente ridículos... Mais ser ridículo é ser vibrante, pulsante e carnavalizar a vida para sempre. Ler antigas melodias e rir da tristeza dantes sentida com muita dor, é ver como somos mutantes e que a mesmice não nos controla mais. Rir não é o melhor remédio, este é a cura para que o vento leve os adjuntos, os adjetivos e as elipses para longe... Ao derramar o leite, não choro mais por este leite derramado, apenas levando o copo, troco as toalhas, amaço as folhas em branco e não choro... Solto um grande e iluminado sorriso!

Mari Pereira

9 de fevereiro de 2011

Sampa


Andando pela cidade meu coração pulsa mais rapidamente. Não por medo da desgraça ou algum perigo que me cerca, e muito menos por algum amor perdido, ele pulsa juntamente com o vai e vem da cidade. Grande cidade, muitas pessoas, uma verdadeira aldeia de ritmos, estilos e cores fazem desta, minha amada casa, única.
Como um corpo único é cortada por veias, artérias, que não transportam um sangue vermelho, verdadeiramente puro, mas um sangue colorido proveniente de várias raças, credos,que confirmam o ar de cidade mãe.
Esta é minha casa, se quiser pode entrar. Nesse infinito particular cheio de mistérios, que jamais todos os sentidos podem apurar, cheia de histórias, tristes ou felizes, refleta de cenários da novela cotidiana, essa paulicéia desvairada, como dizia Mário, me conquista a todo segundo, fazendo meus pés cimentarem nesta terra da garoa.
Não é necessário datas especiais para declarar aos sete ventos seu amor por alguém, o amor está em tudo, basta romper o lacre da realidade dura e deixar que a poesia e o lirismo tomem conta dos objetos.Este amor chegará a todos os lugares, em todas as pessoas, tomará conta da cidade do Centro a Itaquera e se escutará um suspiro " A como te amo São Paulo".
Minha casa, minha aldeia, meu eu... Minhas lembranças se perdem por suas ruas, meus passos, algumas vezes temorosos outras vezes firmes e corajosos, modelam suas calçadas... Meus pontos de encontro por aqui não são tão conhecidos, e muito menos populares, turísticos. Cada esquina tem sua marca, passando meu olhos por elas posso reconhecer meu destino e nele embarcar até esperar a próxima estação.
Sua melodia agitada, fundamentada entre xingos e buzinas, não me assusta, pelo contrário, tornam-me um ser em alerta e qualquer obstáculo, seja este físico ou sentimental, me fazem criar força para pulá-lo e virar na próxima esquina.
Navego pelo seu sangue colorido e encho-me de alegria. Nele posso passar por ruas e avenidas , cruzar a Av. São João com a Ipiranga, porém o significado dessa grande metrópole para esta que os fala, pode ser universal para muitos, particular demais para estas linhas, como um longo e debochado suspiro... Lar doce lar!

Mari Pereira

29 de novembro de 2010

A PORTA....

Tudo começou quando a porta bateu, seria alguem novo na vila???ou será o vizinho que esqueceu a porta dos fundos aberta???não se sabe, só se sabe que a freqüência da porta batendo começou a aumentar....então não seria alguém novo, e sim talvez o vizinho que deixara a porta aberta todas as noites e pela manhã com o vento ela baterá???será???mas quem será este vizinho que deixa a porta aberta todas as noites???e por que deixa a porta aberta???não sei mais, será que eu conto essa historia em primeira pessoa, ou deixo o vizinho contar????

29 de outubro de 2010

Primeira Página


Sentado em uma saleta escura Bento olhava fixamente para uma folha de jornal, velha e amarelada que datava o dia sete de novembro de 2000. A observava com atenção e aquelas palavras dispertavam-lhe sensações que há muito tempo não sentia, da garganta eram produzidos pequenos ruídos, grunidos... Estava agindo como um cão selvagem.
A notícia revelava seu verdadeiro ser, pois como se diz por aí ele de bento, só tinha o nome, pois vivia em um mundo cheio de fantasias, todas banhadas a vinho e a mais baixa promiscuidade.Vivia metido em confusões,que levava como prêmio de consolação um roxo no olho. De bento não tinha nada, só o nome,e muitos e muitas por ai o mandavam todos os dias para o inferno e que de lá não saísse mais,tamanha a sua ignorância e sua mediocridade.
Era um sujeito de fases, pois em cada semana tinha uma obsessão.Durante uma semana tinha um desejo incontrolável de aprender algum idioma estranho, na outra contorcia-se de vontade de possuir a vizinha, mas utimamente essas crises de pura loucura intesificaram-se e ele vivia uma mesma doença por mais de dois meses. Bento focou-se em juntar todos os jornais que tinha lido nos últimos dez anos.
Passava horas e horas, diariamente, revirando todos os cômodos do velho sobrado, herança de seu tio que Bento tinha grande estima, após achar qualquer recorte de jornal perdido pelo espaço dirigia-se até a saleta e sentava-se em uma poltrona velha e empoeirada. Agora Bento adotara uma nova forma de vida, esquecia do presente e os jornais velhos virariam suas horas, seus segundos.Vivia como homem primitivo, não saía de sua grande e velha caverna e cada notícia achada era colada na parede, tornando-se arte rupestre.Agia por extinto, esquecera-se do mundo externo, não saía para caçar,alimentava-se de comida congelada que era aquecida no microondas, para ele fogueira, pois quando se apertava a tecla on significava a primeira faísca, obtida no Paleolítico.
A comida era comprada por seu único e distante vínculo com a modernidade.Josefa, para os íntimos Zefa, no forró Zefinha, era uma migrante nordestina que vinha de uma pequena cidade do sertão pernambucano e que vivia em sampa há 20 anos. As rugas e as mãos calejadas demostravam a díficil rotina de uma empregada doméstica que passava mais da metade de sua vida limpando mansões de madames fúteis do Jardim Europa,porém certo dia uma dessas madames a acusou de roubo e ela foi enxotada da bela casa com piscina como um cão sardento. Após isso jurou para si mesma que jamais voltaria à aquele bairro. Mulher religiosa, devota de padrim Cícero ia a casa de Bento duas vezes por semana. Sob a mesa da cozinha sempre havia o dinheiro para a compra dos congelados e um envelope contendo seu pagamento. Achava Bento estranho e às vezes tinha medo dos hábitos peculiares de seu patrão, porém a necessidade fazia ela dirigir-se à Vila Madalena ás terças e quintas, onde o cenário era sempre o mesmo, a casa revirada como se fosse assaltada todos os dias.
A viagem pelo passado em vias jornalísticas fazia Bento cruzar a tênue linha da obsessão e da loucura. A magreza,agora excessiva,revelava um homem sensível e triste, que mesmo durante toda sua vida tendo uma comportamento relativamente divertido e perigoso era um ser medroso e infantil. Lia diversas manchetes,construía em sua mente uma linha do tempo marcada por desatres naturais, escândolos políticos,porém aquelas notícias não contavam sua épica história.
A cada palavra emitia um som diferente, a voz saía trêmula... Os sons agora tomavam sua consciência, traziam-lhe a sensação que não podia mais falar, havia algo rasgando suas cordas vocais...Não existiam mais palavras pronunciadas, agora ele comportava-se de maneira animalesca pronunciando fonemas perdidos... /f/,/asshh/, Hhhhhhhh... Os fonemas davam a sensação de prisão, uma angústia incansável tomava conta de seu sistema nervoso. Por mais que lesse inúmeras palavras não achava uma frase pronta em sua cabeça, sentia sua garganta presa, não podia gritar, pedir ajuda. Precisava acabar sua linha do tempo, cumprir o lide, precisava finalizar sua pintura pré-histórica. Uma última machete fecharia o ciclo.
Na quinta-feira Josefa chegou ao seu local de trabalho. Estranhou o lugar ao ver que nada estava revirado, tudo exatamente igual ao que deixara na terça passada. Foi a cozinha, chegou-se perto da mesa não havia envelope, nem dinheiro. Pensou que o patrão não estava em casa e então poderia fazer seu serviço de maneira mais leve, pois com Bento em casa, Josefa tinha a sensação de estar sendo observada o tempo todo. Observou o local não havia muito o que fazer quando viu a pequena porta do sótão entreaberta. Dedicada e de certa forma curiosa, pois sempre perguntava-se o que tinha atrás da porta, que vivia sempre trancada e de onde ela ouvia barulhos estranhos, resolveu entrar para limpar o local quando deparou-se com a primeira página do jornal do dia seguinte.
A poltrona derrubada e um corpo pendurado em um suporte de ferro,de uma prateleira inexistente, seria a cena descrita na reportagem. Finalmente Bento parou sua palavras, seus pensamentos, enforcou-os. Agora teria o fim de sua cronologia, tornaria-se finalmente um homo sapiens. Parou sua vontade de gritar, os grunidos foram substituídos pelos gritos de desespero de Josefa e posteriormente o barulho da sirene da polícia. As cordas vocais foram rasgadas por um firme nó de corda, a vontade de gritar sumiu assim como sua voz, que já era pouca e que calou-se de vez.

Mari Pereira

14 de outubro de 2010

A bailarina que perdeu seu compasso


Veste as sapatilhas delicadamente o grande espetáculo aproxima-se. Se olha, com seus enormes olhos negros, no espelho. Sua imagem é radiante, um certo ar de glória e santidade toma conta da jovem bailarina. Devidamente vestida segue para o palco.
Para ela este local é sua casa, pois consegue desenvolver seus rodopios e suas piruetas como a perfeição do voo das borboletas... Seu ego descansa sobre a madeira preguiçosamente. Dança e encanta, com sua flutuante saia e com seu sorriso empolgante ela conquista cada coração presente e faz o grande e respeitável público entrar em uma onda de puro êxtase.
Acaba o sonho, a bailarina descalça as sapatilhas e volta a sua realidade, que não é tão doce e bela como seus rodopios.
A dona dos pequenos pés tão habilidosos não conquista um único coração... Um tal soldado que sempre está envolvido em outros braços. A bailarina está disposta a largar sua leveza e encarar a batalha, porém o soldado não vê o esforço da bailarina e ignora sua existência.
A bailarina chora e suas lágrimas molham o velho tapete da sala.O descaso do soldado a fere dia após dia e os grandes olhos negros tornam-se ainda maiores e com mais brilho, porém este escorre pelo seu rosto.
A jovem decide ir para o front de batalha, pois quer ver seu soldado todos os dias,sentir sua satisfação e ouvir suas palmas ao fim de cada pirueta.
Versos escritos e transmitidos na mais bela forma de dança, o amor traduzido através de seus movimentos delicados e precisos de seus pés parecem não tocar o inatingível coração do soldado.
O soldado já se deixou tocar pelo amor, porém cansou-se deste e deixou uma bailarina triste por aí. Mas é impossível não notar o grande apresso que recebe, mas este passa sua postura firme e restringe seus olhos, como é feito em estratégias de guerra, e não percebe a bailarina.
Os pés delicados não cansam de tentar, fazem seus movimentos graciosos e certos de maneira perfeita. As mãos oferecem rosas, doçuras e abraços mais isto para o soldado parece não ter valor.
Os grandes olhos o observam com ares de admiração... Acompanhavam cada ação, cada passo e desenhava em sua alma múltiplas cenas de perfeição, nas quais o soldado abandonava sua armas e juntaria-se a bailarina... Contudo as imagens sumiram como neblina.
O soldado elogia os rodopios da bailarina, às vezes importa-se com ela e assim seu coração enche-se de esperança, pois acredita que poderá levar consigo o coração e os beijos dele. Porém são meras suposições.
A bailarina acredita que está perto de seu grande objetivo, ter seu soldadinho para sempre, porém em certa manhã cinzenta ela andava despreocupadamente pensando no sorriso de seu soldadinho quando deparou-se com uma cena que fez seus sonhos virarem pesadelos, seus pequenos pés tão talentosos perderem o compasso. Ver o soldado envolvido em outros braços, recebendo outros lábios ao invés do seus, fizeram a bailarina não ter mais vontade de dar piruetas e encantar seu público.
Ela havia perdido as esperanças, perdeu a leveza , a delicadeza... Sua rosa interior murchou e em seu lugar foi colocada uma rocha.
Acabaram-se os rodopios, as piruetas e o sorriso não voltou mais ao seu rosto. O público abandonou o espetáculo e o palco antes sua casa, agora tornava-se um quarto escuro de onde ela fugia.
O soldado não se sabe onde se escondeu. Deve estar no fundo do peito, debaixo da rocha, e se algum dia a rocha fragmentar-se o soldado será lembrado com lágrimas... Mas dentro ou fora do peito, acima ou abaixo da rocha o soldado fez a jovem bailarina esquecer seus rodopios e piruetas, deixar temerosos seus pequenos pés... O soldado cumpriu seu papel na guerra, fez a bailarina perder seus versos a esperança e seu compasso.

Mari Pereira

20 de agosto de 2010

Linhas...


Passo a passo escrevo as linhas do meu futuro, não deixo uma só palavra escapar dos meus olhos, pois isso iria mostrar que não vejo as pedras no meu caminho. Cada letra levemente escrita é colocada no papel , como algo vivo que sai do inanimado e que expande-se pelo ambiente, de maneira contagiante animando cada prato, cada xícara.
Mas agora não escrevo linhas sobre o meu futuro, agora coloco meu presente no papel em branco.
Num presente confuso que vivencio vivo cercado de dúvidas, sem saber ao certo se posso responder minhas perguntas... Na verdade, é certo que não responderei. Um simples e breve olhar para o lado me traz ótimos sonhos, no qual tenho atenção , que seus olhos encontram os meus, que meus braços encontram seus abraços e que sua boca encontre a minha...Mas ao mesmo tempo que tudo surge estes nobres pensamentos desaparecem como fumaça, não aparecem como a elipse de uma oração... Mas como digo, minha elipse insiste em aparecer, mas não quero sua existência em minhas frases, ela deve sumir, por mais que isso doa e castigue os tons líricos de meus textos, a elipse deve sumir de vez.
Meus sonhos estão muito próximos de serem alcançados, basta qualidade neste primeiro passo. Tudo depende da minha sabedoria, de saber fazer boas escolhas... Boas escolhas trazem a sensação de liberdade, que podes pensar e escrever belas linhas , fazer um longo caminho, cheio de glórias e de plenitude. Mas tudo isto depende de um bom primeiro passo. Atualmente sacrifico-me para deixá-lo firme, porém uma mistura de sentimentos deixam os pés em uma corda bamba, meu coração vira um equilibrista que tende para dois lados opostos: A razão e a emoção.
Pensar de maneira racional é dávida, nossa, pobres mortais. O raciocínio te dá asas para voar ou pousar sobre o desconhecido, lhe dá grandes olhos para se poder ver o inesplicável, algo com que uma simples observação , torna-se impossível. A emoção te leva a um caminho único, o infinito particular. Olhar-se para dentro e entender oque se vê é complicado, pois jamais seríamos capazes de entender o quanto somos complexos e como o real interfe no particular. Tantas linhas, tantos caminhos a seguir é dificil decidir como começar o melhor parágrafo.
As indas e vindas da vida começam os parágrafos, as vírgulas isolam os apostos, os opostos da vida, as reticências marcam momentos que ainda irão receber um fim, porém pode-se encontrar vígulas , reticências, mas em meus parágrafos, os meus sonhos jamais terão ponto final.
Não deixarei a janela aberta para que esta através do vento leve pouco a pouco minhas linhas, não deixarei o vento pendurar meus sorrisos, minhas tristezas em qualquer varal por aí, mas se uma grande tempestade fazer voar minhas linhas, peço que apague-as . Começarei outro parágrafo, outro verso... Farei nova poesia!
Iniciarei o mesmo processo, sentar-me a escrivaninha, buscar mais e mais folhas em branco e escreverei minhas linhas. As antigas voaram por aí, ficaram passadas, presas em algum varal por aí. Já estão secas, mas não ser retiradas de lá, devem ficar até que o vento as varra e as faça desaparecer, como a elipse das minhas orações. Ah!, como desejo um vendaval em meu peito, para que este varra a elipse para longe... Mas não quero que varras meu sorriso, minha certeza... Melhor dizendo, não vente por aqui!
Ás vezes pergunto-me se cada linha que escrevo faz sentido, se estas farão diferença, se existirá ao menos um leitor. Coloco meu universo particular em cada palavra, para ser lido e talvez entendido... Porém não há leitores.
Se algum dia, caro leitor, se tiveres entregue ao ócio, leia-me, entenda minhas linhas. E se quiser reescreve-as ou escreve-as para ti e dê fim as reticências, crie belos apostos... Mas peço não fique entre vírgulas, e muito menos, não se dê um ponto final.

Mari Pereira

13 de agosto de 2010

O varal


Olha através do vidro e lá fora chove. Observa o movimento das gotas que caem e que molham as plantas, que abaixam a poeira e que molham suas roupas no varal, sem preocupação. Continua refletindo sobre a paisagem e mal se dá conta que gotas também escorrem de seus olhos. Antes de tocar seu rosto lavado pelas lágrimas, se compara com o varal, que está carregado de roupas molhadas e pesadas assim como seu coração que está flutuando em um grande ar de melancolia e ressentimento. Sai da janela e anda rumo a sala. Busca entre as múltlipas revistas um pequeno caderno de capa vermelha.Acha. Abre e lê as primeiras setenças. Lembra de cada momento que a levou a escrever e sabe que tudo aquilo era uma grande ilusão, mas que algum dia poderia render um bom livro. As poesias, as provas de amor e de afeto estão perdidas nas folhas de um livro, quase amarelas. Às vezes o causador de seus versos reaparece e lhe vem pertubar seus sonhos. Aparece e lhe toca o rosto, olha em seus olhos e estes lhe fazem juras de amor eterno. Seu sorriso toca-lhe a alma e faz brotar em seus lábios um desejo incontrolável de tocar os dele e assim responde a provocação do oponente. O momento torna-se sublime, mas os sonhos acabam e este some como as luzes da cidade no meio de uma fina e intensa neblina.
Volta a olhar o pequeno caderno, o barulho da chuva e do relógio fazem a melodia do momento. Indaga-se dos motivos de pensar naquela distante inspiração. Por que me provocas? Se sabes que sou presa fácil para suas armadilhas, por que olhas para mim com tais olhos de ternura, se sabes que me perco num perigoso labirinto e tú não vens me salvar? Conte-me, eu preciso saber!
Fecha o caderno.Não quer as respostas.
Tenta esquecer aquele caderno há tempos,mas ele não segue as recomendações de sua confidente, pois insiste em ficar ali entre as revistas, para lembrá-la semanalmente de seus versos, pois uma poeta jamais pode se esquecer de seus versos, por mais que estes lhe tragam tristesa.
A chuva cai lá fora. Ela anda rumo a janela, abre-a. Pega o caderno e o coloca em posição de arremesso, mas algo parace que segura sua mão, como uma mãe que fala a seu filho: -Não faça isso meu filho, você irá se machucar. Porém algo desconhecido move suas mãos e o caderno alça voo para fora da janela. A chuva molha cada página, verso a verso. As palavras escritas ali escorrem pela água, e dentro da sala todos os sentimentos escorrem em lágrimas.
Pouco a pouco as gotas cessaram. E brotara no céu os primeiros raios de sol. Iluminavam desde o quarto até a pequena estatueta que ficava sobre um pequeno criado-mudo. Os raios de sol não iluminavam apenas o ambiente, iluminavam o olhos dela. As luzes da esperança já iluminavam seus caminhos, no vidro via-se um esboço de um arco-íris, este com cores leves, suaves. O vento soprava fresco e preguiçoso,as roupas do varal já esboçavam vontade de ficarem secas.
As roupas eram como ela, estavam lá sozinhas, penduradas, pesadas, levando consigo a vontade de encontrar sua verdadeira identidade. Seu sorriso, suas vontades, seus sonhos estavam pendurados como no varal, porém pendurados em um pequeno caderno de capa vermelha. O vento sopra e ajuda amenizar o efeito da água, para ela o vento serve de combustível, pois a leva para buscar suas roupas ,antes que outro vendaval as leve para outros varais, e as prenda em outro quintal triste.
As roupas secam, suas esperanças enchem-se de força . Agora ela constroi um novo varal, agora só com roupas secas, que esperam alguém, que as olhem, que as julguem e que venha recolhe-las para sempre.

Mari Pereira

8 de agosto de 2010

Despertar de um poeta


Sentado a escrivaninha, observa o violão... O breve sinal de tédio o consome, até mesmo quando observa o mosquito que entrou pela janela e insiste em vasculhar todos os lugares de seu quarto. Ele olha novamente o mosquito, respira fundo... O suspiro espanta o invasor,e finalmente ele pode se ver livre a dar asas a imaginação.
Olha para tela reluzente do computador, as janelas estão abertas e esperam um toque para lhe mostrar as maravilhas do mundo virtual, seus amigos fazem a barra de ferramentas piscar , implorando cinco minutos de atenção , para quem sabe disperdiçar com alguma conversa inútil. Ele faz seus amigos se calarem, fecha o mundo virtual e se esconde sobre uma página branca aberta em sua tela. Tanta tecnologia , esta que o interliga com todo mundo é incapaz de convence-lo a largar a página em branco... Ele quer privacidade , quer ser sozinho em um lugar onde todos estão juntos, conectados.
Seus dedos deslizam sobre a sopa de letras e números do teclado e pouco a pouco surgem na tela os primeiros versos. Ele escreve, joga sua alma através das palavras , vai em busca de responder suas próprias dúvidas... E acha respostas. Cada palavra se encaixa em uma melodia única, capaz de criar compasso com as batidas do seu coração. Ele sabe que tem um caminho árduo e difícil, como pimentas, que queimam e fazem chorar, mais ele vai em frente,pois cada palavra faz sentido para seu infinito particular.
O tempo passa, seus olhos estão vibrados pelas luzes coloridas da tela que são apenas ofuscadas por cada letra que aparece nesta. O fim está próximo, não, há muito mais para escrever. Produz uma, duas, três, mil melodias para responder o que sente, o que lhe toca.
Acorda. A viagem ao seu interior termina com um ponto final, no último verso. Olha para os lados e vê a janela aberta, que lhe mostra o esboço do pôr do sol. Observa o ambiente que se encontra e se depara com o velho violão. Encostado na parede, a peça lhe passa carinho, sorte e lhe faz um convite... Ele não quer ver apenas os dedos deslizarem sobre a sopa de letras, reflexo da tecnologia, ele quer sentir os dedos deslizarem sobre suas cordas.
O convite é logo aceito pelo interlocutor e pouco a pouco novas sensações são transmitidas. O som de cada nota se mistura com cada palavra pronunciada por sua voz que gera uma atmosfera única... Só ele é capaz de entender.
Uma nova figura surge, nasce um poeta. Na verdade qualquer um tem a capacidade de escrever, mas sentir e escrever é tarefa para poucos, poucos poetas.
O som do velho violão corre pelo ambiente, o poeta se localiza sentado, no parapeito da janela, o velho violão sob seus braços e seus dedos deslizando sobre as cordas. A melodia está concretizada, passa pelo violão e por seu lábios, que abrem-se e fecham-se como no movimento do cantar de passarinho. Sua voz encanta,puxa os olhos para os versos, transformam a tarde cinza, em colorida. Do parapeito da janela, a brisa toca seu rosto e anuncia que a melodia está completa e que já é hora de fazer uma nova canção, um novo verso e assim criar uma nova melodia, que será capaz de deixar a tarde seguinte mais amena, tranquila, como a melodia que sai de sua voz e do velho violão.
Senta novamente a escrivaninha, agora com ares de poeta. Joga no papel todo seu particular, que escorre como lágrimas sinceras, que escreve novas palavras, novos versos. O ato de poetizar está consumado. Olha para o quarto, a escuridão vai surgindo no lado de fora da janela, dando vaga para as luzes das estrelas e da cidade iluminarem o caminho. Podia passar as manhãs, as noites , as madrugas a escrever e a cantar, mas não fará isso, pois precisa repousar e deixar que seus sonhos fujam da consciência e ganhem vida em sua alma.
Abandona o teclado, o velho violão e deita. Os sonhos se libertam, e juntos se unem... Amanhã, um novo dia... Amanhã uma nova poesia.

Mari Pereira

6 de agosto de 2010

Para ordem e progresso


Chegou a hora, está iniciada a corrida dos cidadãos pela democracia. Observando todos os veículos de informação somos bombardeados por diversas informações que mostram a realidade do país, nua e crua, como se nós, os cidadãos, não tivéssemos a ideia de como o país em muitos aspectos caminha para o buraco. Presenciamos todo esse espetáculo da realidade, onde nós, somos os palhaços. Todos nós estamos cansados, com nossos olhos viciados a ver imagens de crianças correndo entre os carros nos faróis fechados da metrópole, para conseguir vender uma simples bala, lavar um embassado vidro... Nosso olhos veem, mais não percebem que a rotina que é tão cruel com muitos é mais uma imagem no ritmo frenético da cidade. As desigualdades que passam por nossos olhos os puxam como ressaca, porém estes não fazem a mínima força para sair d´água, preferem se afogar. Vive-se na subserviência. O tempo passa, passa... A águas que passam pela ponte, vão, vão... Mas o estado de conformismo instaura-se em cada cidadão, a preguiça puxa cada um como olhos de cigana oblíqua e impede todos de levantar , gritar e protestar... Para muitos essas reações são de alguns utópicos que vivem por aí. A utopia é algo impossível de se alcançar, mais algo próximo a ela com muito trabalho podemos conseguir.Porém basta dar o primeiro passo.
O primeiro passo é o mais dificil, pois não só as pernas como a consciência está amarrada, onde o cabresto não deixa as pessoas deixarem de olhar apenas para "seu próprio umbigo".
Todos nós somos egoístas,até mesmo a que redige este texto, porém cada um deve arrancar seu cabresto e perceber que mesmo sendo apenas uma célula, num grande organismo , cada um tem sua função e se este funcionamento não for feito ou mal realizado o organismo morre, como está morrendo agora com a omissão de nós cidadãos e pelos que estão presentes no poder.
A omissão é mais fácil, falar contra ou a favor dá trabalho, sair protestando e fazer valer seus direitos e dificil demais quando estamos presos a cadeia absorvendo informações inúteis na tarde de domingo.
Para mudar tudo isso basta o primeiro passo, este está próximo, precisamente no mês de outubro.
Será que este será dado ou simplesmente a função não será cumprida? Eis ai uma grande questão. O voto é a representação funcional do cidadão,é por ele que este indica ou não o bom funcionamento do organismo.Porém a célula deve refletir e ver e rever o funcionamento do organismo, pois se este não funciona, deve-se substituir os componentes de dois importantissímos sistemas: O Executivo e o Legislativo.
Quem sabe se estes funcionarem o organismo ganha mais fôlego e respira ares da tão desejada utopia. Entretanto os componentes do sistema devem ser devidamente substituídos, com consciência, com inteligência...É preciso curar as muitas chagas presentes nestes sistemas, pois uma contamina a outra e no fim das contas quem sofre as consequências somos nós , as células.
Votar não pode ser levado como obrigação, mas como uma grande expressão da vontade da população, só que muitas vezes a vontade é trocada por cestas básicas ou por dentaduras... Esse é o reflexo da realidade.
Participar, argumentar, discutir é só o começo para se tomar decisões corretas. Levar a cultura à áreas esquecidas pela maioria da sociedade vai proporcionar um grande efeito em cadeia, onde tudo e todos estarão conectados , como sinapses, para apertar CONFIRMA com sabedoria.

Mari Pereira

7 de julho de 2010

Quem é Helena?


Há tempos não se sentia assim, perdido e tentando achar respostas para todas as perguntas universais. Indagava-se, refletia... Motivo? Nenhum existia. Levantou-se com sentimento de dúvida e aos poucos, mesmo vivendo num apertado apartamento, criou espaço entre os móveis e libertou suas palavras.
Correu, gritou, derramou-se em lágrimas mesmo assim não conseguia expressar suas emoções. Suas atitudes vis não serviam, seu espírito sádico só lhe deu em troca breves momentos de prazer. Precisa de muito mais que isso, seu coração precisa saltar do peito e conquistar seu espaço no mundo.Tudo é tão estranho para ele pois não há motivo para as suas dúvidas, não há causas... Só há consequências.
Olha pela janela do apartamento e vê que seu súbito ataque de existência não altera o cotidiano, não atinge o bem comum. Tudo continua normal no ritmo frenético das ruas de São Paulo. Tantas revoluções que ocorrem dentro de um apartamento, só atinge seu morador. Ele entra novamente para sala de estar... Estar ali é o recomeço. Observa atentamente cada objeto, desde a velha lista de telefone jogada sobre mesinha de centro até as roupas sujas jogadas pelo chão. Oque ele procurava numa velha lista telefônica datada em 1998? Será que foi neste ano que deixou suas esperanças? Ou procura um bom número para discar e desabafar com algum desconhecido... Ele não quer isso. As roupas sujas o que fazem lá, não foram caminhando sozinhas para a velha lavadora? Impossível.
Abre a lista e acha um pequeno papel com um número anotado e sobre este o nome Helena.Aquela era a chave para sua felicidade. Seria esta que guiaria seus passos, era ela que ganharia suas batalhas troianas e o chamaria de vencedor? Pegou o telefone, discou aqueles 8 números, aqueles que mudariam, pelo menos, aquela tarde cinza e seca de inverno.
O telefone toca, toca ... E niguém atende. Tenta novamente e o mesmo ocorre. Não houve resposta para mais uma de suas dúvidas. Quem era mesmo Helena? Ela, neste momento, era apenas um telefone que chamava e chamava...
A tarde vai se esgotando , o sol indo embora e este para de revelar sua sombra na parede branca, já desbotada pelo tempo. Esquece a lista, recolhe as roupas e parte rumo a lavanderia. Em meio aos produtos de limpeza e uma infinidade de roupas sujas, chega a uma conclusão: Helena... 1998... Foi com ela que eu deixei minhas vontades, foi nesse ano que eu perdi minha sorte... Foi para ela que eu deixei minhas fotos... Nesse ano que eu perdi a cabeça?
Sanadas as dúvidas, volta a janela e observa o movimento. O sol se pondo, as primeiras luzes da cidade acendendo-se... Era a noite que se aproximava. Sentindo a brisa do fim da tarde em seu rosto viu que as batalhas ocorridas mais cedo em seu peito, em sua memória já tinham sido vencidas... Helena derroto-as. Uma sequência numérica, de oito dígitos lhe salvou o dia. A noite chega, as luzes se acendem... A esperança reacende seus pensamentos e leva a percepção a níveis inimagináveis. Cada dia uma batalha nova contra si mesmo, esta serve para desenvolver forças. O cotidiano lhe coloca barreiras, para serem vencidas, puladas... Outras vezes as vontades são mais fortes que a própria inteligência... As derrotas entristecem, geram mágoas... Acabam com a tarde. Mais o sol se põem. Chega noite, o corpo repousa...Para vencer as mágoas, as incertezas, as dúvidas, vem o sol e consagra o sorriso, a felicidade, o amor... Nada que um dia após o outro.

Mari Pereira