7 de julho de 2010

Quem é Helena?


Há tempos não se sentia assim, perdido e tentando achar respostas para todas as perguntas universais. Indagava-se, refletia... Motivo? Nenhum existia. Levantou-se com sentimento de dúvida e aos poucos, mesmo vivendo num apertado apartamento, criou espaço entre os móveis e libertou suas palavras.
Correu, gritou, derramou-se em lágrimas mesmo assim não conseguia expressar suas emoções. Suas atitudes vis não serviam, seu espírito sádico só lhe deu em troca breves momentos de prazer. Precisa de muito mais que isso, seu coração precisa saltar do peito e conquistar seu espaço no mundo.Tudo é tão estranho para ele pois não há motivo para as suas dúvidas, não há causas... Só há consequências.
Olha pela janela do apartamento e vê que seu súbito ataque de existência não altera o cotidiano, não atinge o bem comum. Tudo continua normal no ritmo frenético das ruas de São Paulo. Tantas revoluções que ocorrem dentro de um apartamento, só atinge seu morador. Ele entra novamente para sala de estar... Estar ali é o recomeço. Observa atentamente cada objeto, desde a velha lista de telefone jogada sobre mesinha de centro até as roupas sujas jogadas pelo chão. Oque ele procurava numa velha lista telefônica datada em 1998? Será que foi neste ano que deixou suas esperanças? Ou procura um bom número para discar e desabafar com algum desconhecido... Ele não quer isso. As roupas sujas o que fazem lá, não foram caminhando sozinhas para a velha lavadora? Impossível.
Abre a lista e acha um pequeno papel com um número anotado e sobre este o nome Helena.Aquela era a chave para sua felicidade. Seria esta que guiaria seus passos, era ela que ganharia suas batalhas troianas e o chamaria de vencedor? Pegou o telefone, discou aqueles 8 números, aqueles que mudariam, pelo menos, aquela tarde cinza e seca de inverno.
O telefone toca, toca ... E niguém atende. Tenta novamente e o mesmo ocorre. Não houve resposta para mais uma de suas dúvidas. Quem era mesmo Helena? Ela, neste momento, era apenas um telefone que chamava e chamava...
A tarde vai se esgotando , o sol indo embora e este para de revelar sua sombra na parede branca, já desbotada pelo tempo. Esquece a lista, recolhe as roupas e parte rumo a lavanderia. Em meio aos produtos de limpeza e uma infinidade de roupas sujas, chega a uma conclusão: Helena... 1998... Foi com ela que eu deixei minhas vontades, foi nesse ano que eu perdi minha sorte... Foi para ela que eu deixei minhas fotos... Nesse ano que eu perdi a cabeça?
Sanadas as dúvidas, volta a janela e observa o movimento. O sol se pondo, as primeiras luzes da cidade acendendo-se... Era a noite que se aproximava. Sentindo a brisa do fim da tarde em seu rosto viu que as batalhas ocorridas mais cedo em seu peito, em sua memória já tinham sido vencidas... Helena derroto-as. Uma sequência numérica, de oito dígitos lhe salvou o dia. A noite chega, as luzes se acendem... A esperança reacende seus pensamentos e leva a percepção a níveis inimagináveis. Cada dia uma batalha nova contra si mesmo, esta serve para desenvolver forças. O cotidiano lhe coloca barreiras, para serem vencidas, puladas... Outras vezes as vontades são mais fortes que a própria inteligência... As derrotas entristecem, geram mágoas... Acabam com a tarde. Mais o sol se põem. Chega noite, o corpo repousa...Para vencer as mágoas, as incertezas, as dúvidas, vem o sol e consagra o sorriso, a felicidade, o amor... Nada que um dia após o outro.

Mari Pereira

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