8 de agosto de 2010

Despertar de um poeta


Sentado a escrivaninha, observa o violão... O breve sinal de tédio o consome, até mesmo quando observa o mosquito que entrou pela janela e insiste em vasculhar todos os lugares de seu quarto. Ele olha novamente o mosquito, respira fundo... O suspiro espanta o invasor,e finalmente ele pode se ver livre a dar asas a imaginação.
Olha para tela reluzente do computador, as janelas estão abertas e esperam um toque para lhe mostrar as maravilhas do mundo virtual, seus amigos fazem a barra de ferramentas piscar , implorando cinco minutos de atenção , para quem sabe disperdiçar com alguma conversa inútil. Ele faz seus amigos se calarem, fecha o mundo virtual e se esconde sobre uma página branca aberta em sua tela. Tanta tecnologia , esta que o interliga com todo mundo é incapaz de convence-lo a largar a página em branco... Ele quer privacidade , quer ser sozinho em um lugar onde todos estão juntos, conectados.
Seus dedos deslizam sobre a sopa de letras e números do teclado e pouco a pouco surgem na tela os primeiros versos. Ele escreve, joga sua alma através das palavras , vai em busca de responder suas próprias dúvidas... E acha respostas. Cada palavra se encaixa em uma melodia única, capaz de criar compasso com as batidas do seu coração. Ele sabe que tem um caminho árduo e difícil, como pimentas, que queimam e fazem chorar, mais ele vai em frente,pois cada palavra faz sentido para seu infinito particular.
O tempo passa, seus olhos estão vibrados pelas luzes coloridas da tela que são apenas ofuscadas por cada letra que aparece nesta. O fim está próximo, não, há muito mais para escrever. Produz uma, duas, três, mil melodias para responder o que sente, o que lhe toca.
Acorda. A viagem ao seu interior termina com um ponto final, no último verso. Olha para os lados e vê a janela aberta, que lhe mostra o esboço do pôr do sol. Observa o ambiente que se encontra e se depara com o velho violão. Encostado na parede, a peça lhe passa carinho, sorte e lhe faz um convite... Ele não quer ver apenas os dedos deslizarem sobre a sopa de letras, reflexo da tecnologia, ele quer sentir os dedos deslizarem sobre suas cordas.
O convite é logo aceito pelo interlocutor e pouco a pouco novas sensações são transmitidas. O som de cada nota se mistura com cada palavra pronunciada por sua voz que gera uma atmosfera única... Só ele é capaz de entender.
Uma nova figura surge, nasce um poeta. Na verdade qualquer um tem a capacidade de escrever, mas sentir e escrever é tarefa para poucos, poucos poetas.
O som do velho violão corre pelo ambiente, o poeta se localiza sentado, no parapeito da janela, o velho violão sob seus braços e seus dedos deslizando sobre as cordas. A melodia está concretizada, passa pelo violão e por seu lábios, que abrem-se e fecham-se como no movimento do cantar de passarinho. Sua voz encanta,puxa os olhos para os versos, transformam a tarde cinza, em colorida. Do parapeito da janela, a brisa toca seu rosto e anuncia que a melodia está completa e que já é hora de fazer uma nova canção, um novo verso e assim criar uma nova melodia, que será capaz de deixar a tarde seguinte mais amena, tranquila, como a melodia que sai de sua voz e do velho violão.
Senta novamente a escrivaninha, agora com ares de poeta. Joga no papel todo seu particular, que escorre como lágrimas sinceras, que escreve novas palavras, novos versos. O ato de poetizar está consumado. Olha para o quarto, a escuridão vai surgindo no lado de fora da janela, dando vaga para as luzes das estrelas e da cidade iluminarem o caminho. Podia passar as manhãs, as noites , as madrugas a escrever e a cantar, mas não fará isso, pois precisa repousar e deixar que seus sonhos fujam da consciência e ganhem vida em sua alma.
Abandona o teclado, o velho violão e deita. Os sonhos se libertam, e juntos se unem... Amanhã, um novo dia... Amanhã uma nova poesia.

Mari Pereira

Um comentário:

  1. Mari assim vc me mataaa !!!
    Simplesmente AMEI !!!! <3

    by : Ná X.

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