26 de abril de 2010

Olhares da Selva de Pedra


Toca o relógio, seis horas da manhã. Ela se levanta e vai cumprir seu cronograma diário: Prepara sua xícara de café com leite, arruma suas coisas e parte rumo ao seu trabalho. Mora longe do centro, pega um ônibus e um metrô abarrotados de trabalhadores como ela, que saem cedo de casas limpos e voltam pelo fim da tarde cheirando a mais um dia de trabalho duro.
Como sempre, ela chega ao trabalho, realiza suas tarefas como secretária de um escritório de advocacia... Melhor dizendo, burocracia, passa o dia todo organizando papéis, fazendo café, e esperando ansiosamente sua ida de volta pra casa. Enfim são seis horas da tarde, o relógio toca e ela pega seus pertences e vai rumo à porta de saída.
Na estação, um número de pessoas é tão grande quanto o presente de manhã, porém aquela volta para casa não seria igual a todas de sempre. No vagão lotado ela entra e se acomoda como é possível. Senta-se e um pequeno banco, ao lado de dois homens, estes com a exaustão estampadas em seus rostos. Em meio à multidão, ela olha em direção a passarela e como um grito de libertação, o destino lhe mostra em meio a tantas pessoas, um olhar especial, um amor incondicional.
Olham-se. Aquele minuto pareceu curto demais para a mistura de sentimentos. O contato físico, as palavras de afeto , os beijos trocados são detalhes ao sentimento que vivem... O amor, o sentimento que carrega as pessoas para níveis extremos de compaixão, que levam alguns a prestar atenção a cada gesto, a cada sorriso. O cotidiano tão agitado e a selva de pedra indomável perdem suas resistências e tornam-se suaves, como a brisa do mar, e este sentimento toma seus lugares, com características febris, fluídos e sem controle.
O agito da metrópole para e presencia o contado dele e dela. Os passeios pelas ruas, de mãos dadas, os sentimentos compartilhados, as frases de " Eu te amo" trazem ecos de todos os lugares, e fazem do imutável, mutável, do rígido, suave... Faz a rosa brotar do asfalto.
A muito a mudar, pois um amor tão sincero não é capaz de mudar a rotina... O homem encostado entre a parede e a porta da estação continua ali, imóvel analisando cada pessoa que dá seus passos pela passarela, o mendigo pedindo poucos trocados está ali, imóvel, esperando um bom samaritano. Ele e ela carregam a responsabilidade de fazer aquele fim de tarde de segunda-feira, único. Eles possuem toda a culpa por deixar o som ensurdecedor da estação, uníssono, na qual apenas os dois escutam ofegantes as vozes um do outro, fazem os passos da multidão parar e deixa-se perceber apenas dois passos, que finalmente de encontram e selam aquela tarde no metrô.
Um olhar apenas é capaz de gerar uma série de sensações. Se eles tocaram-se, falaram-se... Não sei dizer. Seus olhos se conectaram, formando uma integração única, como as palavras de uma poesia que se abraçam, que se beijam em seus significados, como uma borboleta que como flor dança pelos ares... Os olhos dela encontraram nos dele o que faltava para se conquistar a suma felicidade.
O corre-corre da estação, aqueles milésimos de segundos calmos de quando existe um olhar fixo e recíproco fazem das situações rotineiras especiais. Se estes abraçaram-se, casaram-se,se este amor foi eterno, ou foi momentâneo, não há resposta. A fresta entre as pessoas prova que não se precisa de muito espaço dentro do peito para viver um grande amor, esse ocorrendo apenas entre os olhares e talvez com o fim na próxima estação.

Mari Pereira

Um comentário:

  1. Simplismente TUDO...amo muito tudo isso....
    MAri vc é d+
    escreve como uma rosa ao desabrochar...

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